sábado, 27 de julio de 2019

Venezuela: uma guerra contra a classe operária - parte 3


Qual é sentimento geral da classe operária venezuelana?


O sentimento da classe operária venezuelana no geral é de grande desmoralização. Há uma desagregação generalizada da sociedade. Em torno de quatro milhões de pessoas abandonaram o país, numa população total de 30 milhões.
Existe um setor importante de sindicalistas classistas e revolucionários, mas que enfrenta gigantescas dificuldades para manter uma certa organização dos trabalhadores que no geral, se encontram à beira da fome. O salário mínimo, que é muito generalizado, é de 40 mil bolívares, ou US$ 5, mensais. Os preços da maioria dos produtos de consumo são preços internacionais já que se trata de produtos no geral provenientes do contrabando. Os poucos que ainda são produzidos localmente dependem de insumos importados o que também gera explosões dos preços. Somente alguns produtos agrícolas são muito baratos.
Como os trabalhadores sobrevivem com um salário que nem sequer pode-se dizer que seja um salário? Desde 2013, tem se tornado muito comum o chamado “bachaqueo”, que é o jeitinho venezuelano, em parte copiado dos colombianos, para sobreviver. Basicamente, compra e venda de tudo o que for possível, e obviamente no desespero pela sobrevivência se generaliza a tentativa de levar vantagens. Nas ruas das principais cidades, se vê muitas pessoas vendendo tudo o que for possível. Alguns vendem simplesmente café. Outros montam umas banquinhas muito pequenas onde os produtos ficam reduzidos a dois maços de cigarros e uns biscoitinhos. Com isso, eles conseguem ganhar mais que o salário oficial. Muitas vezes, o custo do ônibus que é de 500 bolívares em média, consome o salário do mês inteiro. Com a falta de energia, matérias primas e o boicote, muitas das dependências de trabalho se encontram semiesvaziadas e muitos dos trabalhadores trabalham apenas alguns dias por semana, e se dedicam o restante do tempo a completar a renda, por meio do “bachaqueo” para poder sobreviver.
Os salários da maior parte dos trabalhadores são pagos diretamente pelo governo, inclusive quando as empresas não conseguem produzir, para evitar que fechem. Além dos preços muito baixos dos serviços públicos, que estão muito sucateados, o governo fica outorgando bônus (bolsas ou dinheiro adicional) para aliviar a situação. Há uma cesta básica que é entregue a toda a população e uma miríade de Missiones ou programas sociais, que aliviam uma parte do sofrimento pela sobrevivência.
A classe operária ficou submetida a uma situação de semi lumpesinato. Mal consegue comer, embora ainda não se veja fome. Ela é empurrada à informalidade. No setor público, o salário máximo tem como teto 1,3 salários mínimos. No setor privado, as empresas estão paralisadas e, portanto, a maior parte dos trabalhadores recebe o salário mínimo. A dolarização do mercado vai se impondo, pouco a pouco, como prenúncio de um dos componentes centrais da saída capitalista para a crise.
O Poder Comunal
O chamado Poder Comunal foi o eixo central da “construção do socialismo do século XXI” de Chávez. Algo parecido com as empresas auto gestionárias da época de Joseph Broz Tito na Iugoslávia. Se trata de complexos de produção, abastecimento e serviços controlados pelos trabalhadores, com autonomia e que deviam ir se fortalecendo como contrapeso às estruturas do Estado burguês e da propriedade privada sobre os meios de produção. Obviamente que a lei do valor, a principal lei do capitalismo, não é eliminada por empresas que tenham como propriedade os trabalhadores quando a cadeia produtiva e os principais meios de produção são controlados pelo grande capital. E ainda fica pior quando a estrutura do Estado burguês é mantida. No “caos venezuelano”, este fato bastante óbvio e que na Iugoslávia gerou problemas importantes, passa quase desapercebido.
As Comunas agrupam vários Conselhos Comunais que estão se formando, em cima da legislação chavista e dos Coletivos. Há o Poder Popular Comunal que é conformado por deputados locais, regionais e nacionais. O problema mais importante que as comunas enfrentam é que a maioria delas não são eficientes. E as que o são, enfrentam a paralisia do governo e se veem obrigadas a aplicar métodos de produção arcaicos. Mesmo assim, as comunas não têm perdido membros no processo acelerado de desagregação da sociedade. Junto à Milícia Popular, que congrega aproximadamente dois milhões de milicianos como suporte às Forças Armadas, uma parte das comunas tem formado milícias de autodefesa, contra a direita e o imperialismo.

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