jueves, 18 de julio de 2019

Venezuela: uma guerra contra a classe operária - parte 2


Uma guerra externa e interna
O imperialismo norte-americano tem aplicado um bloqueio criminoso contra a Venezuela, impedindo-a de vender o petróleo, sequestrando bens no exterior, impedindo o comercio, impondo o sucateamento dos serviços públicos, pressionando para que a mão de obra qualificada e a juventude deixem o País. O objetivo é enfraquecer a classe operária e o proletariado para impor a derrubada do chavismo e principalmente derrotar as tendências revolucionárias.
O ataque contra a Central Hidrelétrica de Guri, no mês de março de 2019, evidenciou essa política, mas não está claro para o público estrangeiro como essa se processa no interior da Venezuela.

Todos os serviços públicos estão hipersucateados e funcionam muito precariamente. A maior parte dos parques industriais não funciona por falta de energia elétrica e por causa do boicote aplicado pela burguesia. De acordo com a legislação em vigor, as empresas abandonadas ou em quebra podem passar a ser gerenciadas pelos trabalhadores, as chamadas “Roncas”. Há centenas dessas empresas numa situação de paralisia industrial. O governo tem priorizado entregá-las à cúpula militar ou a membros da burocracia estatal ou do PSUV (Partido Socialista Unificado de Venezuela). A maioria delas não consegue sair do chão devido à política de lumpenização generalizada que vem se impondo na Venezuela.
A chamada “burguesia revolucionária”, de acordo com a definição do atual ministro da Agricultura, ou seja, a burguesia que tem se desenvolvido em torno dos governos chavistas e que tem priorizado os negócios com os chineses e russos, tem buscado os lucros rápidos e por esse motivo, tem priorizado as importações. O mesmo tem acontecido nas empresas “multinacionais”. O número de empregados das montadoras ou o das principais indústrias do setor de autopeças foi reduzido em 80% e, na maior parte dos casos, só um pequeno número de operários trabalha efetivamente, principalmente em operações de manutenção.
O próprio governo evita transferir empresas para o controle do movimento operário. E quando o faz, as carências são enormes devido ao boicote dos capitalistas que controlam mais de 90% das cadeias produtivas. As empresas Roncas não conseguem comprar insumos das demais empresas, nem sequer pagando à vista, e se veem obrigadas a comprar de intermediários o que aumenta os custos da produção. Um exemplo significativo aconteceu quando a Bayer deixou o país, recentemente, e pagou US$ 5.000 por ano trabalhado aos operários com o único objetivo de impedir a gestão operária.
A direita e o governo chavista
Após anos de sucessivas derrotas, a direita venezuelana, agrupada na MUD (Mesa de Unidade Democrática) aplicou uma derrota quase fulminante nas eleições gerais de 6.12.2015 para a AN (Assembleia Nacional). Somente não conseguiu os dois terços de maioria por causa de uma manobra do governo que inabilitou dois deputados da direita e um do chavismo. Mesmos assim, um dos setores mais direitistas da AN empossou esses dois deputados. O governo Maduro aproveitou o passo em falso e a AN foi declarada em desacato pelo Judiciário, anulando todas as suas decisões.
O descontentamento da população que tinha dado lugar às chamadas “guarimbas” (protestos violentos impulsionados pela direita) de 2014 e à vitória eleitoral da direita continuou nos dois anos seguintes. Os problemas do desabastecimento continuaram sob o aumento da pressão do imperialismo e o boicote da burguesia local, tanto da burguesia ligada ao imperialismo como o da burguesia ligada ao governo chavista. Em 2017, a direita voltou à carga com uma nova onda de “guarimbas”. Estas paralisaram o País e duraram quase três meses. O uso maciço de lumpens levou a que, após algumas semanas, estes começassem a cobrar pedágios da população ou a impedir que saísse das suas casas. O descontentamento contra a direita se generalizou.
Nessas condições, o governo saiu com a ideia de eleições para uma ANC (Assembleia Nacional Constituinte). Alguns prefeitos que estavam pagando os “guarimbeiros” foram presos e a polícia acabou com o que tinha restado das “guarimbas” em dois ou três dias. As eleições para a ANC foram vencidas amplamente pelo chavismo, até porque o grosso da direita não participou. A seguir foram chamadas eleições municipais e depois eleições estaduais. Ambas foram vencidas pelo chavismo com 80% dos votos. A ANC ficou praticamente paralisada, sendo usada fundamentalmente como contraponto à AN controlada pela direita.
Maduro anunciou no mês de agosto de 2017, um Plano de Recuperação. Este não conseguiu recuperar a economia, muito pelo contrário, esta não para de piorar sob a pressão dos ataques externos e internos. Recentemente, foi anunciada a finalização das conversações entre a direita e o governo chavista que aconteceu na Noruega e em Barbados. Ainda não foram feitos públicos os acordos, mas o mais provável é que o que tiver sido decidido só pode ser contra a classe operária e os trabalhadores, contra quem tentarão repassar a conta.

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